Os comboios passam


                           I
À janela de casa vejo  
Os comboios que passam, apressados,  
Trilhos cortam o vazio,  
Rumo ao destino incerto.

O ritmo dos vagões me envolve,  
Barulho seco na tarde cinza,  
Entre pausas e pensamentos dispersos,  
O mundo se desfaz, fragmentado.

Pessoas que não toco, apenas observo,  
Passam como sombras em movimento,  
E eu, quieto e inquieto,  
Aguardo o próximo sopro da vida.

No interior da casa, o silêncio  
Ecoa como um comboio distante,  
E eu, aqui parado, esperando,  
Vejo as histórias deslizarem, fugidias.

                            II
À janela de casa vejo 
os comboios que passam,  
são fantasmas de aço e vento,  
trazem-me memórias que nunca tive,  
partem, e levo comigo o rasto das luzes.  
As vozes dos trilhos ecoam nas paredes,  
como segredos murmurados ao ouvido,  
e há uma vontade absurda de me perder nelas,  
mas fico, fico sempre.  
Olho para o relógio,  
mas o tempo aqui não tem pressa,  
é um fio esticado que nunca arrebenta,  
e eu sou um nó que nele se entrelaça.  
A cidade adormece lá fora,  
e eu estou acordado,  
sou parte de um cenário que se repete,  
onde os comboios deslizam sem parar,  
como pensamentos que não consigo calar.  
E entre o som do metal e o silêncio da noite,  
descubro-me a questionar,  
se sou eu que vejo os comboios,  
ou se são eles que me atravessam,  
se sou janela ou passageiro,  
se estou preso à terra ou ao movimento.  

                             III
À janela de casa vejo 
os comboios que passam,  
e há neles algo de mim,  
algo que também se vai,  
algo que fica sempre,  
algo que não sei nomear.  
Fecho os olhos e ainda os vejo,  
são sombras que desenham o escuro,  
levam consigo o que poderia ter sido,  
e deixam-me só,  
com o que realmente sou.

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