A arte é um refúgio denso,
mas não apaga a sujeira.
Os dias arrastam-se em silêncio,
e eu olho as mãos vazias.
Porque existo entre paredes gastas,
porque respiro entre ruas mortas,
porque me escondo atrás de palavras,
não me salvo, apenas finjo.
O som das coisas banais
rasga-me a pele tão fraca.
Tudo é real e tão sujo.
Tudo é real e tão frio.
Escrevo para enganar o corpo,
escrevo para calar a alma,
mas a dor está na víscera
e a beleza não a toca.
A arte não cura ninguém,
é um manto roto, sujo.
Mas cobre-me nesta ilusão,
nesta trégua que nunca dura.
Vejo-me num espelho gasto,
não há nada além do rosto.
Vejo-me no chão esquecido,
não há nada além do chão.
Mas persisto, invento-me ainda.
Pinto o mundo com mentiras.
Porque viver é este jogo,
e a arte é só uma máscara.
No entanto, continuo a escrever.
Porque há o medo do silêncio.
Porque há o medo de morrer.
Porque há o medo de não ser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário