Eu, que me carrego,
neste peso insuportável.
Os dias enrolam-me
em silêncios frios,
e os minutos mordem
a carne que sou.
Sou tantos dentro
deste corpo pequeno.
Arranho-me por dentro,
falam os meus nomes,
gritam como ondas,
rasgam-me o sono.
Quem sou no espelho
quando não olho?
Quantos me cabem
neste peito magro?
Os dedos tremem,
não tocam nada.
A boca fecha-se,
mas dentro há vozes.
Dizem-me: agarra-te,
és tu, és só tu.
Mas como suportar-me
sem me perder inteiro?
Cada sonho mastiga
a realidade que vivo.
Cada desejo afunda-me
no chão molhado
das minhas próprias
promessas vazias.
Sou todos e nenhum,
sou sombra que arde.
Eu que me aguento,
eu que me carrego.
Sou o que sobra
quando já parti.
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