Abismo


Dentro de mim há um abismo,  
de sombras que crescem sem dó,  
onde a moral dissolve-se lenta,  
e eu, frágil, não sei quem sou.

Cada desejo é uma faísca,  
que incendeia o que eu nego,  
o certo e o errado misturam-se,  
no fogo que me consome cego.

E o espelho reflete essa fera,  
que habita no fundo do peito,  
roendo os restos do que fui,  
cravando garras num leito desfeito.

Mas a queda é tão doce,  
que me entrego ao silêncio cruel,  
afogando-me nesse vazio denso,  
abraçando o abismo em meu fel.

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