Gotejando

Ela caminha, espalha o que não cabe,  
no peito há sobra que não se guarda.  
O tempo escorre, sem pressa,  
pela fresta que a vida abre.

O vazio não a toca, não a fere,  
há sempre mais que se dá,  
ela transborda, sem fim,  
como rio que não cessa.

Não há sede em quem derrama,  
nem cicatriz na alma que jorra.  
Ela não teme a perda,  
se perde, logo se doa.

O mundo é vasto e ela flui,  
nas curvas do amor que resta.  
Na doação, ela se encontra,  
na falta, ela não se afasta.

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