Espelho d'água


Quando atento no olhar da loucura,  
no espelho d'água, vejo  
o rosto desfeito pela corrente,  
e sinto um desapego  
que me esvaece em gotas de dúvida.  

O meu refletido é um jogo de sombras,  
uma dança turva na superfície,  
e cada ondulação é uma história  
que se dissolve antes de ser contada,  
uma mentira que se desmancha na bruma.  

E neste estado de dispersão,  
onde o tempo é um vazio de silêncios,  
me pergunto se sou eu ou a névoa,  
se o que vejo é real ou apenas um conto  
de um ser desfeito na correnteza do ser.  

A água é um mistério líquido,  
um labirinto de olhos sem fundo,  
e eu, neste jogo de luz e sombra,  
sou um fragmento que se perde,  
buscando, um reflexo que me complete.

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