Queria apenas poder querer
Que a vida fosse vida
E eu nunca a tivesse provado
Que a noite iluminasse o día
E eu não conhecesse o sol
Que a areia beijasse o mar
E meus lábios fossem nuvens
Que a chuva caísse no céu
E eu me afogasse no deserto
Que os ríos nascessem no mar
E eu vivesse em Plutão
Que o vento norte soprasse de sul
Que a morte revivesse a vida
E eu estivesse de costas
E eu morasse a leste
Que o gelo derretesse a lava
E eu fosse um fóssil
Que o amor iluminasse o mundo
E eu não estivesse lá
Que o ser derrotasse o ter
E eu nunca o sentisse
E eu conhecesse apenas o vazio
Que o desespero vencesse a tristeza
Que as lágrimas fossem de açúcar
E eu desconhecesse o sabor
Que o abraço nunca abrisse mão
E meu corpo fosse fumo
Que o brilho do teu olhar fosse eterno
E eu nascesse cego
Que a bondade mandasse no mundo
E meu coração fosse de chumbo
Que o fim fosse o princípio
E eu vivesse sempre no meio
Que o nada fosse mais que o tudo
E a liberdade prendendo-me
me fizesse livre.
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