Andas pelos becos, mãos sujas do barro do esquecimento,
agasalhas o frio dos que já não sentem o calor da vida,
recolhes os estilhaços, os ossos partidos, as almas rasgadas.
Cuidas das feridas que o tempo ignorou, do sangue coagulado em memórias distantes,
seguras os corpos que o mundo deixou cair, levantas o que foi abandonado à sorte.
Amas o que o mundo esqueceu, o que foi deixado à deriva, à margem do rio da indiferença.
Caminhas sem exigir, sem esperar, teu peito aberto como abrigo,
como terra fértil que recebe as sementes rejeitadas.
Abraças o silêncio dos que perderam a voz, das bocas caladas pela dor,
ofereces teu coração como alimento, tua ternura como remédio.
Não pedes retorno, não cobras, apenas dás, és fonte que sacia sem fim.
És o lar que ninguém reconhece, a mão que afaga sem ser vista.
No teu andar, desenhas caminhos de luz, em terreno de sombras.
Rasgas a escuridão, costuras esperança nos retalhos da vida.
És o tempo que acolhe, a chama que nunca se apaga,
a chama que aquece quem o frio consumiu.
E enquanto o mundo gira e desvia o olhar,
tu, persistente, permaneces, colhes o que a vida deixou para trás.
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