Um homem caminha por entre sombras,
com os pés afundados na lama seca,
respira o ar denso que uma vez foi leve,
e não sente o peso dos corpos caídos,
pois aprendeu a calar a voz da alma.
O suor na testa, mistura-se com o sangue alheio,
e o olhar turvo encontra o brilho do sol,
mas não há calor que derreta o gelo do coração.
O que resta é o vazio disfarçado de dever,
a fúria contida em ordens cegas,
e o sopro gélido da indiferença.
Uma vez humano, agora vestígio de homem,
ele cumpre a tarefa sem hesitar,
pois a sombra do poder sussurra-lhe ao ouvido,
transforma-lhe o espírito em fera adestrada,
incapaz de reconhecer o rosto no espelho.
O sangue que pinga das mãos não é seu,
mas sente-o correr nas veias,
o pulso ritmado com o grito dos silenciados,
que ressoa em paredes onde a morte se esconde.
As estrelas que brilham no céu distante,
são apagadas pela fumaça das chaminés,
e ele, cego por dentro, não as vê.
O cheiro doce da morte impregna os poros,
mas o nariz acostumou-se ao aroma pútrido,
enquanto o coração endurece, torna-se pedra.
O riso de criança que uma vez conheceu,
é agora lembrança fragmentada,
perdida na neblina de uma memória esfacelada.
O que resta é o eco do silêncio,
a batida surda de um coração que não sente,
e o peso leve da consciência morta.
Ali ao lado, em cinzas, jaz a humanidade,
e ele, sobrevivente de sua própria destruição,
caminha em círculos, prisioneiro de si mesmo,
onde o mal disfarçado de ordem,
consome o que restou da sua alma.
O corpo, cansado, um dia desmoronará,
mas a alma, já perdida, não encontrará descanso.
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