Ela segura em si mesma, uma âncora, ao vazio,
o grito nasce do ventre, rasga a garganta,
seu corpo é um mapa de agonia,
despido, exposto, frágil,
a pele carrega manchas como sombras de feridas antigas,
e a dor sobe pelos ossos, afundando-se na carne,
cada respiração um peso,
os dedos cravam-se na carne, como quem busca segurar o tempo,
o grito é silêncio, é ruído, é tudo o que sobrou,
um lamento que não cessa,
os olhos fechados, selando a realidade,
não há consolo no escuro,
somente o pulsar das veias,
o sangue que se agita, quente e solitário,
cada segundo se alonga,
uma eternidade contida num instante,
não há alívio na nudez,
o corpo, uma prisão sem janelas,
o grito é um trovão,
a alma contorcida, sem rosto,
tudo dentro dela implode,
as memórias fervem, escorrem pela pele,
mas ela está sozinha,
nada resta senão a sombra de si mesma,
e o grito se quebra em mil pedaços,
espalhados pelo chão frio,
um corpo em convulsão de vazio,
as mãos apertam mais forte,
os dentes rangem,
ela sente a terra ceder,
um abismo que se abre aos seus pés,
e o grito não a salva,
só a consome,
e ela desce,
sem saber se o fim é abaixo ou dentro de si mesma.
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