Eu gosto desta terra como quem rasga o chão
sou feio mas isso não me dobra, não me apaga
olho os outros, os pequenos, os sujos, e neles vejo o peso que carrego
não sou bom, não sou nada, mas existo aqui
neste canto onde o céu não nos olha, e o mundo nos ignora
arrasto-me com as horas, com o cansaço, mas não me importo
gosto do que dói, gosto do que queima por dentro
não entendo a beleza, nunca a vi de perto
mas estas ruas tortas têm as minhas pegadas, e isso basta
ninguém nos ensina a viver, mas continuamos
somos lentos, somos duros, mas nunca deixamos de andar
há dias em que grito só para me ouvir a mim mesmo
a terra suja prende os meus pés, mas eu gosto
os olhos ardem de tanta miséria, mas seguimos
não me interessa a glória, não me interessa o amanhã
sou este pedaço gasto de carne que respira, que morde
e mesmo sendo nada, sou tudo o que posso ser
porque gosto, gosto deste lugar que não me quer.
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