Procuro-me nas palavras,
nas sombras que a vida lança
sobre o meu caminho.
Cada passo que dou
é tanto avanço como recuo,
um espelho onde vejo
não o que sou,
mas o que ainda falta ser.
Nas esquinas da memória,
sou criança,
sou homem,
sou a ideia inacabada
de quem talvez nunca serei.
No tempo que passa,
encontro-me apenas por instantes,
antes de desaparecer de novo,
como uma estrela cadente
que ilumina, mas nunca fica.
A minha identidade não se prende
ao que vejo,
mas ao que sinto
nas margens do meu ser,
onde o silêncio abraça o desejo
de ser mais do que já fui.
E cada dia é uma nova versão
de mim mesmo,
uma reescrita silenciosa
do poema inacabado que sou.
Por vezes, canso-me de procurar,
de seguir esse fio invisível
que me leva a parte incerta.
Mas quando paro,
sinto o vazio crescer,
a ausência de mim mesmo
a gritar dentro do peito.
E assim, volto ao caminho,
não por necessidade,
mas porque a busca
é a única verdade que conheço.
Entre o ser e o não ser,
entre o que deixei de ser
e o que ainda não alcancei,
existe um espaço que é meu,
um vazio cheio de possibilidades,
onde cada ausência
se transforma num novo início.
Afinal, talvez a busca
não seja para me encontrar,
mas para aprender a perder-me,
vez após vez,
até que o perder seja, enfim,
a minha forma de ser.